Nosso mundo pede PAZ! Então, nada como recorrer ao I Ching e à natureza para relembrarmos algumas lições básicas sobre a tão desejada PAZ.
No I Ching, o hexagrama PAZ é um dos mais prestigiados pelos mestres taoístas. Através dos seus simbolismos podemos aprender mito sobre o seu cultivo. Formado pelo trigrama do Céu e da Terra, ele representa o encontro, a união das energias Yin e Yang na natureza. Quando o Céu e a Terra se unem, geram todas as coisas, todos os seres, toda a vida do universo. Por isso esse hexagrama simboliza a própria primavera, época em que todos os seres são vivificados. Ele representa a renovação, o crescimento, o inicio de um novo ciclo.
Falar da primavera nos faz lembrar das plantas, das árvores, da natureza. Então pense nas plantas de uma floresta. Inúmeros tipos de árvores, algumas imensas invadindo o céu, outras menores, menos imponentes. Arbustos, gramíneas, trepadeiras, flores e cipós... A diversidade das espécies é a maior riqueza das florestas. Lá existe uma variedade tremenda de seres vivos compartilhando o mesmo espaço, em perfeita harmonia. Um conjunto perfeito em que cada um cumpre o seu papel e vive de acordo com sua natureza. A planta que precisa de mais água para viver sorve mais que a outra, que precisa de menos. Quem precisa de mais luz, vai mais para o alto buscar o sol. Quem precisa de menos, fica mais embaixo. E todos se satisfazem, sem que haja injustiça ou reclamação, sem que haja guerra ou discórdia. A grande árvore não se irrita quando a trepadeira enrosca-se no seu tronco para crescer. E a bromélia não precisa de jequitibá para se realizar... Quanta coisa nós, da imensa floresta humana, podemos apreender sobre a convivência
pacífica com os habitantes verdes da floresta...
Pensar nas plantas também nos remete a idéia do cultivo: um processo árduo que começa no preparo da terra e no plantio, culminando na colheita. Isto tudo depois de um longo período de esforço, dedicação e paciência. Esforço para arar a terra mais dura e tornar o campo mais receptivo e propício à germinação das sementes. Dedicação para cuidar, adubar, regar e auxiliar o crescimento dos brotos. Paciência para esperar que a planta naturalmente dê os frutos que tanto aguardamos, o que só acontece no tempo da própria planta. É importante: colhermos o
que plantamos!
Quando dizemos que precisamos de paz no mundo, percebemos claramente o que desejamos colher: “A Paz”. Para isso é necessário cultivá-la, com esforço, dedicação e paciência. Esforço para desenvolvermos a tolerância exterior, quebrando o excesso de rigidez provocado pelas nossas exigências, nossas “certezas” e julgamentos. Para tornarmo-nos mais receptivos ao outro, suas crenças, necessidades e opiniões. Dedicação para perseverarmos na transformação interior que nos amplie a consciência, tornando-nos mais lúcidos e menos ansiosos, mais criativos e menos apegados, mais dinâmico e menos rígidos, mais universais e menos egoístas. Paciência, pois estas transformações não acontecem como um passe de mágica. Os frutos surgem no próprio tempo, de acordo com o ritmo de cada um, respeitando a naturalidade de cada um. Ouvi dizer que a tamareira leva mais de uma centena de anos para produzir frutos. E não adianta tentar apressar a natureza....
Finalizando este princípio de reflexão, mais duas observações sobre o hexagrama Paz: a Terra está acima e o céu está embaixo! Podemos ler: colocar-se no lugar do outro é o caminho do encontro pacífico entre os diferentes. Boa dica dos dois grandes do I Ching, não é?
E outra: a abertura da Terra está no exterior enquanto a transformação do Céu está no interior! Ou seja, a paz é um processo que começa dentro de nós e cresce para fora, em direção ao mundo, pelo caminho da humildade e da tolerância! Ainda bem!... Pois desta forma, mesmo que o exterior dificulte um pouco as coisas, podemos manter viva a esperança de que realmente conseguiremos construir um mundo de paz, começando a partir do nosso próprio coração!
Quer cultivar um pouco de paz interior? Então achegue-se e venha meditar conosco!
Saúde e longevidade!
Wagner Canalonga
Sacerdote Taoísta, Professor de I Ching e
Regente da Sociedade Taoísta do Brasil em São Paulo
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